Dentes de leite, restos de placenta, sangue menstrual e até gordura da barriga podem ser entregues à ciência para ajudar na busca de tratamentos para problemas tão variados quanto autismo e doenças degenerativas.
Os "resíduos" podem ser encaminhados para centros de pesquisa, onde são usados principalmente em estudos com células-tronco.
Essa modalidade de doação, no entanto, é quase desconhecida no Brasil. Os cientistas precisam se desdobrar para que as pesquisas não parem por falta de material.
Os "resíduos" podem ser encaminhados para centros de pesquisa, onde são usados principalmente em estudos com células-tronco.
Essa modalidade de doação, no entanto, é quase desconhecida no Brasil. Os cientistas precisam se desdobrar para que as pesquisas não parem por falta de material.
O esforço inclui não ter vergonha de pedir para participar do parto de desconhecidos. "Uma vez, fui trocar um presente e reparei que a vendedora estava grávida. Pensei logo na minha pesquisa e falei sobre a doação", conta Patrícia Beltrão Braga, pesquisadora da USP.
"A placenta e o cordão umbilical são normalmente descartados como lixo hospitalar depois do parto", diz a cientista. "Pedimos para usar isso que já vai ser jogado fora mesmo."
Além do trabalho com placentas, o Laboratório de Células-Tronco da Faculdade de Veterinária da USP, que ela comanda, também faz pesquisas com dentes de leite. As células-tronco da polpa do dente podem ser transformadas em neurônios: um modelo perfeito para estudar doenças como o autismo.
GORDURINHAS
Outra interessada em material descartado é a geneticista Natássia Vieira, pesquisadora de Harvard e da USP que vasculha o tecido adiposo em busca da cura para doenças degenerativas, como a distrofia muscular.
Em meio à gordurinha do abdome e do culote, escondem-se células-tronco com poderosa ação regeneradora.
"Quando explicamos a pesquisa, a maioria das pessoas doa. Infelizmente, ainda tem gente que parece ter apego à célula e que acha que vamos usar o material recolhido para fazer um clone", brinca a pesquisadora.
No Centro de Estudos do Genoma Humano, onde é feito esse trabalho, há muito mais células que interessam aos cientistas.
Em busca de células-tronco mesenquimais, a dupla Marcos Valadares e Mayra Vitor Pelatti tem o difícil trabalho de convencer mulheres a doar seu sangue menstrual.
Os pesquisadores garantem que o processo é simples. "É só usar um coletor menstrual, que é um copinho, por duas ou três horas e depois colocar o sangue em um pote com antibiótico que nós fornecemos. Não é tão diferente de usar um absorvente interno", diz Pelatti.
COMO DOAR
Em geral, os laboratórios têm os contatos e as informações básicas em seus sites (veja quadro ao lado). Muitas vezes, é enviado ao doador um kit com material. É preciso assinar um documento autorizando a doação.
Com cordão umbilical e placenta, os pesquisadores precisam ser informados da previsão do parto para ficar de plantão, uma vez que a coleta precisa ser feita até uma hora após o nascimento.
Os cientistas costumam ter parcerias com hospitais. Mas eles reafirmam a importância do doador individual.
"A pesquisa só acontece porque as pessoas doam, isso é um ato de amor e solidariedade", define Braga.
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