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domingo, 13 de novembro de 2011

Sobre outro olhar: a necessidade do Braille e a conquista digital


necessidade do Braille e a conquista digital; cegos vivenciam um mundo novo enquanto vivem esquecidos pelo novo mundo


Você já experimentou ficar por pelo menos 60 segundos com os olhos fechados e simultaneamente ter que realizar alguma atividade, como escrever, procurar uma roupa ou até mesmo caminhar por dentro de casa? No certo é uma situação incomoda. Mas, isso só acontece porque vivemos em um mundo onde tudo é feito para quem tem visão.


O fato é que, atualmente, os seres humanos estão em contato direto com inúmeras opções de informações que chegam até eles por meio de incontáveis ferramentas de comunicação que estão disponíveis apenas a olho nu.

Os quadros de aviso, por exemplo, localizados em instituições públicas e privadas são informativos e passam mensagens que são interpretadas apenas por quem podem ler. Além destes, também existem mensagens verbais e não verbais em folders, cartazes, panfletos, livros, revistas, jornais, TV e internet que, se não disponibilizados na versão em Braille (códigos em relevo), nunca chegarão sozinhas até um deficiente visual.

Assim como na vida real - em que a inadequação das cidades é um transtorno para os deficientes -, no mundo virtual também são necessários ajustes. Muitas páginas, bonitas e funcionais para quem pode enxergar, precisam de adaptações para se adequar aos cegos. De nada adianta, por exemplo, páginas coalhadas de desenhos se os ícones não forem acompanhados de palavras que possam ser decodificadas. Têm de estar escritas letra por letra para que possam ser lidas pelo programa que as transforma em som.

Mesmo diante dos problemas e dificuldades ainda enfrentados pelos portadores de deficiência visual, felizmente está havendo um movimento, quase que mundial, no sentido de prover formas de apresentação que são mais acessíveis, mas é claro que isso tudo vai acontecendo paulatinamente. Há pouco tempo atrás, a pessoa não tinha acesso a nada e de repente tem acesso a um mundo de coisas.

Na Paraíba, essa inovação tecnológica com a chamada inclusão digital só é possível graças à atuação do Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha – o ICPAC, localizado em João Pessoa, Capital do Estado. A entidade está prestes a completar 70 anos de existência, porém, necessita, literalmente, de um olhar.

Desconhecida ou até mesmo ignorada pela maioria da população, a entidade, de cunho filantrópico, presta serviço nas áreas de educação, reabilitação e profissionalizante às pessoas portadoras de deficiência visual que desejam ampliar seus serviços e melhorar cada vez mais o atendimento à sua clientela, no entanto, ainda esbarra na questão financeira, pois sobrevive praticamente de doações.



O instituto é dirigido por Maria do Socorro Belarmino de Souza. Ela nasceu cega e tem seis irmãos na mesma condição. Juntos todos lutaram, venceram as barreiras e superaram as dificuldades.

O ICPAC hoje conta com um laboratório de informática, que possibilita os alunos e professores a avançarem na busca de conhecimentos tecnológicos e permite com que estes cresçam nesse universo. Entretanto, o ICPAC tem muito a desenvolver no que concerne ao processo de modernização. Mesmo com amplo espaço em suas dependências, ainda faltam melhorias nas instalações.

Para Maria do Socorro Belarmino, ser cego não é nunca foi motivo para desistir de lutar. Ser cego é sinônimo de superação e por este motivo as inovações tecnológicas tornaram e ainda tornam um indivíduo cego muito mais habilitado a tarefas antes impossíveis.

“Para a pessoa cega, a comunicação pela Internet é especialmente importante por duas razões: a eliminação da necessidade da locomoção, que é normalmente um entrave para o cego, e o fato de que do outro lado da Internet, ninguém precisa realmente saber se o parceiro é ou não cego. Assim, pelo menos numa comunicação inicial, a pessoa cega é vista como uma pessoa não deficiente pelo parceiro”, disse.

Ainda conforme Maria Belarmino, para os cegos, a inclusão digital é apenas uma questão de prática. Para a estudante do curso de Comunicação Social, pela UFPB, Enalva Azevedo, que está realizando um projeto experimental no Instituto dos cegos, as visitas a entidade mostram que enquanto os deficientes visuais se deparam com um mundo novo, de acesso a tecnologia, o novo mundo, o da modernidade e do individualismo, acaba esquecendo que existem esses portadores de necessidades especiais.

Para a estudante, a acessibilidade na internet ou acessibilidade na web é importante, pois significou permitir o acesso de todos à rede mundial de computadores independente do tipo de usuário, mas também é importante que quem está do outro lado do monitor tenha um novo olhar. " A deficiência visual é uma realidade. Não basta apenas se sensibilizar, tem que cooperar", assegurou.

Inlusão digital - uma realidade

Hoje, a inclusão digital para os deficientes visuais é uma realidade, mas só é possível graças ao desenvolvimento dos programas como DOS VOX, JAWS e Virtual Vision. Eles permitem a uma pessoa sem visão a utilização de uma parte dos programas utilizados diariamente pela maioria da população.

Uma das usuárias do Dosvox é a professora universitária do curso de Comunicação Social, pela UFPB, Joana Belarmino, irmã da presidente do Instituto, que também é deficiente visual. A docente é hoje um dos maiores exemplos de superação, tendo em seu currículo além da graduação em Comunicação Social, a especialização em Metodologias da Comunicação, um Mestrado em Ciências Sociais e um Doutorado em Comunicação e Semiótica. Joana Belarmino provou e prova a cada dia que as barreiras podem ser superadas e que para vencer e alcançar seus objetivos é preciso apenas à dedicação.

A professora, no entanto, faz questão de ressaltar que não abandonou o Braille com a facilidade tecnológica. Para ela, a tecnologia não pode ser substituta do Braille, principalmente no processo de alfabetização da criança cega. Joana Belarmino acredita que privar uma criança do aprendizado da escrita manual, seja esta em relevo, seja manuscrita, é como privá-la de uma importante conquista cultural.

“A escrita em relevo já tem quase duzentos anos. Nada melhor surgiu até agora. Difícil fazer previsões nesse terreno, mas penso que a vida do braille ainda será longa. Lamentavelmente, enquanto que na educação especial se negligencia um pouco o braille, ao nível da cultura, a nossa escrita ganha espaços nos produtos mercadológicos, nos bens de serviços, como elevadores, terminais de atendimento bancário e outros. O mundo está se braillicizando. Será que os educadores de crianças cegas vão ficar à margem?”

Ainda de acordo com a professora Joana Belarmino, “Ler Braille não é somente ginástica cerebral. Ler Braille é um exercício de autonomia”

A origem do Braille

A origem do Braille partiu de uma necessidade e da iniciativa de um portador de deficiência visual, chamado de Louis Braille - “O Menino que Trouxe Luz ao Mundo da Escuridão”.. Ele perdeu a visão aos três anos. Quatro anos depois, ele ingressou no Instituto de Cegos de Paris.

Em 1827, então com dezoito anos, tornou-se professor desse instituto. Ao ouvir falar de um sistema de pontos e buracos inventado por um oficial para ler mensagens durante a noite em lugares onde seria perigoso acender a luz, Louis Braille fez algumas adaptações no sistema de pontos em relevo.

O instrumento é semelhante ao que é usado hoje, um sistema simples em que usava 6 buracos dentro de um pequeno espaço. Com esses 6 buracos dentro deste espaço, ele pôde fazer 63 combinações diferentes.


Cada combinação indicava uma letra do alfabeto ou uma palavra. Havia também combinações para indicar os sinais de pontuação.

Em 1827, Louis escreveu em Braille a "Gramática das Gramáticas". Em 1828, continuando seus estudos, ele aplicou seu sistema à notação musical.

Em 1829, apresentou a primeira edição do "Método de Palavras Escritas, Músicas e Canções por meio de Sinais, para uso de Cegos e Adaptados para eles". No prefácio desse livro, Braille refere-se a Barbier: "Se nós temos vantagens de nosso método sobre o seu, devemos dizer em sua honra que seu método deu-nos a primeira idéia sobre o nosso próprio".


No instituto, o novo código só foi adoptado oficialmente em 1854, dois anos após a morte de Braille, provocada por tuberculose em 6 de Janeiro de 1852, com apenas 43 anos.

Na França, a invenção de Louis Braille foi finalmente reconhecida pelo Estado. Em 1952, seu corpo foi transferido para Paris, onde repousa no Panthéon.


Os livros puderam fazer parte da vida dos cegos. Tudo graças a um menino imerso em trevas, que dedicou a sua vida a fazer luz, para enriquecer a sua e a vida de todos os que se encontram privados da visão física.





PB Agora

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