RIO - Semana passada, quando o verão finalmente começou a dar as caras na cidade, o trânsito de ambulantes que comercializam toda a sorte de bronzeadores ficou mais intenso. Na altura do Posto 5, na Praia de Copacabana, onde foi feita a foto acima, não era difícil ver vários deles oferecendo óleos de beterraba, café, cenoura e urucum e até o clássico Rayito de Sol. Isso em plena quinta-feira. Embora esse tipo de produto — com baixo ou zero fator de proteção solar (FPS) — seja tachado como "perigoso" pelos dermatologistas, muitos banhistas ainda se lambuzam, com a justificativa da eterna busca pela cor do verão.
De FPS 2 a 15, todos os bronzeadores modernos têm um número estampado no rótulo. Inclusive o Rayito, que agora apresenta versões da pomada à base de urucum com fator de proteção 8.
— Isso é marketing, para confundir os usuários. Ou você se protege ou se bronzeia. Óleos vendidos sem controle na praia normalmente têm pigmentos que deixam a pele avermelhada, além de causar espinhas — afirma o dermatologista David Azulay, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio.
Mas nem só de ingredientes de origem duvidosa são feitos os bronzeadores. Marcas famosas como Lancôme, Dior, Biotherm e Nivea têm cosméticos bronzeadores cada vez mais turbinados. Em seu primeiro verão, a Sol de Janeiro botou na praça um óleo de açaí, em spray, que promete hidratar e proteger enquanto ativa o processo de bronzeamento (FPS 8). Há também produtos cremosos, como o Golden Plus Loção Bronzeadora Canela (FPS 5), do Boticário, e até à base de parafina, como a Parafina Bronze (FPS 3), da Arpoador Cosméticos. Preferida das rainhas de bateria Viviane Araújo e Ellen Roche, a Parafina Bronze, por sinal, é recordista de vendas nas farmácias da Zona Sul, segundo dados da marca. Tudo com devido aval da Anvisa.
— Fatores de proteção dois, cinco ou oito estão longe de serem ideais, mas é melhor do que não usar nada — analisa a dermatologista Sara Bragança. — A solução para quem deseja manter o bronzeado saudável é usar cremes autobronzeadores após um dia de sol regado, no mínimo, a filtro solar com FPS 15.
Embora campanhas de prevenção do câncer de pele e envelhecimento precoce tenham entrado na rotina do carioca há décadas, muitos ainda vivem dias de sol como se não houvesse amanhã. Para o ambulante Geraldo Sergio Soares, de 50 anos e 15 de praia, os cariocas têm queda por bronzeadores em forma de travesseirinho de 23ml (R$ 2) e pelo antigo Tan Tom (R$ 10), ambos de FPS 2.
— Quem compra Rayito de Sol são os turistas argentinos ou italianos. Os mais branquinhos, como os americanos e os alemães, têm medo das almofadinhas e só usam Sundown — conta Geraldo.
O aviso de que os sachês de beterraba têm baixa proteção contra queimadura solar não desanima a produtora cultural Carmem Grasso, de 48 anos, loura e de pele clara:
— Uso há décadas, e nunca sofri queimadura.
Mais consciente, um ambulante que não quis se identificar ("Não tenho tempo para conversar muito, senão perco dinheiro") se recusou a vender uma almofadinha de urucum para a repórter e a fotógrafa:
— Vocês são muito brancas. Se passarem esse óleo vão parar no hospital com queimaduras de segundo grau. Ele é para quem tem a pele morena ou negra.
A dermatologista Sara Bragança proíbe todo tipo de óleos bronzeadores para seus pacientes.
— O bronzeador frita a pele — adverte.
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